MAIS ADIANTE...)
Quando César atravessou o Rubicão em 49 a.C., juntamente com suas tropas desafiando as ordens do Senado, parecia evidente que ele não se contentaria com nada menos do que o poder absoluto. Os conspiradores que o assassinaram nos idos de março de 44 a.C, provavelmente acreditaram estar salvando a democracia romana. Porém apenas desencadearam outra guerra civil. No final, Marco Antonio, o antigo parceiro de Júlio César, aliado a Cleópatra ( que foi amante de Júlio César), foi derrotado da batalha de Ácio em 31 a.C. o vencedor, Otávio, retornou a Roma, adotou o augusto nome de Augusto e assumiu o poder com dócil aprovação do Senado, antes tão orgulhosos de suas prerrogativas. A corte imperial criada por César Augusto perduraria por outros quatro séculos em Roma e ainda sobreviveria por mais dez séculos após sua transferência para Constantinopla.
Bem mais ao oriente, os chineses formaram um enorme império terrestre nos séculos anteriores a Cristo. Mas o Ocidente, desde o início da história escrita, sempre fora arquipélago de cidades-Estado – ou seja, de entidades políticas menores e independentes. Elas regularmente atacavam e saqueavam umas às outras, mas nenhuma buscava uma hegemonia mais ampla. Formavam alianças, mas não impérios, até o avanço de Alexandre Magno pela Ásia Menor no século a.C. Mas o império de Alexandre foi uma façanha pessoal e não poderia sobreviver ao seu fundador. Já os romanos, por outro lado, revelaram-se magistrais na construção e manutenção de seu império.
TEORIA DA ORIGEM DO DOMÍNIO
Desde a antiguidade, os historiadores vêm discutindo sobre o que levou Roma a dominar todo o mundo ocidental. No século 2 a.C., o historiador grego Políbio dedicou 40 volumes à questão e chegou à conclusão de que Roma foi movida por uma noção de “destino manifesto”, por uma compulsão para o domínio. Os próprios romanos costumavam sustentar que a formação do império tinha muito de acidental, tendo se delineado no processo de defesa contra invasores. E de fato, o Império Romano, começou de maneira improvisada. Séculos de escaramuças contra Estados rivais ampliaram aos poucos seu território e até o século 3 a.C. a maior parte da península italiana estava sob domínio de Roma. As grandes potencias eram as famosas cidades-Estado – Alexandria, Atenas, Siracusa e Cartago. Ao contrário de Roma elas dispunha de poderosas frotas navais. Mas os romanos tinha seu exército, cuja tenacidade era motivo de orgulho. E depois revelaram-se mais competentes do quie todos os outros para administrar o império.
Impulsionada por pressões políticas e necessidades econômicas – era preciso garantir o abastecimento de cereais, escravos, metais, tecidos, etc. – a expansão romana sofreu brutal aceleração após 260 a.C. um após o outro, os grandes Estados da orla do Mediterrâneo sucumbiram, diante de catapultas, lançadores de bombas incendiárias e de uma infantaria disciplinada, capaz de avançar em centúrias (companhias de 100 homens protegidos por escudos).
Em apenas 200 anos. Roma estendeu sua influencia desde a Síria até a Espanha,e do Sul da França até o deserto do Saara. Muito antes de Augusto atribuir-se o título de primeiro imperador romano, o império já estava em grande parte estabelecido. Algumas poucas províncias distantes ainda seriam acrescentadas mais tarde - Britânia, Dácia ( atual Romênia), Armênia. Mas o grande desafio de Augusto e de seus sucessores não foi a expansão do império,e sim sua administração. E administrar acabou-se revelando o grande talento dos romanos. Embora estes tenham produzido imortais obras literárias, assim como pinturas sublimes e mosaicos tão perfeitos, sempre foi acentuado em Roma um sentimento coletivo de inferioridade em relação à Grécia nos domínios da arte, da literatura e da ciência. Na arte, de governar, porém, a situação era bem outra: ali os romanos conseguiam ser magistrais. No sexto livro da Eneida, de Virgílio, o aspecto é muito bem abordado:
Outros saberão com mais habilidade, abrir e animar o bronze, creio de boa mente, e tirar do mármore figuras vivas, melhor defenderão as causas dos céus e marcarão o curso das constelações: tu, romano, lembra-te de governar os povos sob teu império. Estas serão tuas artes, impor condições de paz, poupar os vencidos e dominar os soberbos.
Aeneis VI, 847-853
“Sob teu império... impor condições de paz”. Virgílio conseguiu sintetizar muito bem em versos este ideal, mas transforma-lo em realidade concreta era uma obra de arte bem mais complexa do que compor uma epopéia. Um fator crucial para a integração do extenso mundo romano foi a adoção de um único código de leis. Mas também o fato de este não ser aplicado de maneira rígida – e este foi um elemento – chave do êxito romano.
Embora pudessem ser extremamente brutais, não pensando duas vezes pregar alguém numa cruz, os romanos preferiram bem mais a cooperação do que a crucificação,pois aquela dava melhores resultados. Quando Roma conquistava nova província, o comandante era derrotado e suas tropas eram levadas embora em grilhões, mas quase todo o resto da população era poupado, e a elite acabava sendo incorporada à hierarquia romana. Os mercadores locais passavam a desfrutar de estradas, aquedutos, leis comerciais e tribunais romanos. e grande parte da população provincial passava a ser cives Romani – cidadãos de Roma, com deveres e privilégios daí decorrentes.
O Estado Romano era um caldeirão de diversidade cultural, qualquer cargo na administração imperial era acessível para um candidato adequado do sexo masculino, não importava seu local de origem. Nascido no norte da África, o general Sétimo Severo tornou-se imperador de Roma - e manteve-se no trono durante 18 anos. Trajano, um dos grandes imperadores, era originário da península Ibérica.
Roma executou Jesus Cristo e perseguiu os cristãos primitivos, atirando muitos deles aos leões mas, essa medidas eram excepcionais. Os romanos tinham seus rituais tradicionais, complementados, após a escensão de Augusto, pelo culto da divindade dos imperadores. Todavia, as crenças romanas eram fortemente influenciadas por uma variada mescla de religiões exóticas.
Quase todo destacamento do exército romano possuía um santuário para Mitra, o deus persa da luz. Quando Pompéia foi redescoberta há dois séculos, um dos primeiros edifícios a ser exumados foi um opulento templo de Ísis, a deusa egípcia da fertilidade. Assim era o diversificado império que Augusto, ao tomar o poder, herdou de seus predecessores republicanos.
O primeiro imperador de Roma mostrou-se também um dos melhores, Roma passara a maior parte dos três séculos anteriores empenhada em conquistas militares. Augusto freou a expansão imperial e concentrou-se na melhoria da infra-estrutura civil – por toda a parte surgiram estradas e pontes, aquedutos, muralhas de proteção e novos templos. A paz de Augusto propiciou o surgimento da época de ouro da literatura latina, durante a qual Horácio, Virgílio, Ovídio e Tito Lívio produziram obras que continuam a ser lidas ainda nos dias de hoje.
( CONTINUA)
Quando César atravessou o Rubicão em 49 a.C., juntamente com suas tropas desafiando as ordens do Senado, parecia evidente que ele não se contentaria com nada menos do que o poder absoluto. Os conspiradores que o assassinaram nos idos de março de 44 a.C, provavelmente acreditaram estar salvando a democracia romana. Porém apenas desencadearam outra guerra civil. No final, Marco Antonio, o antigo parceiro de Júlio César, aliado a Cleópatra ( que foi amante de Júlio César), foi derrotado da batalha de Ácio em 31 a.C. o vencedor, Otávio, retornou a Roma, adotou o augusto nome de Augusto e assumiu o poder com dócil aprovação do Senado, antes tão orgulhosos de suas prerrogativas. A corte imperial criada por César Augusto perduraria por outros quatro séculos em Roma e ainda sobreviveria por mais dez séculos após sua transferência para Constantinopla.
Bem mais ao oriente, os chineses formaram um enorme império terrestre nos séculos anteriores a Cristo. Mas o Ocidente, desde o início da história escrita, sempre fora arquipélago de cidades-Estado – ou seja, de entidades políticas menores e independentes. Elas regularmente atacavam e saqueavam umas às outras, mas nenhuma buscava uma hegemonia mais ampla. Formavam alianças, mas não impérios, até o avanço de Alexandre Magno pela Ásia Menor no século a.C. Mas o império de Alexandre foi uma façanha pessoal e não poderia sobreviver ao seu fundador. Já os romanos, por outro lado, revelaram-se magistrais na construção e manutenção de seu império.
TEORIA DA ORIGEM DO DOMÍNIO
Desde a antiguidade, os historiadores vêm discutindo sobre o que levou Roma a dominar todo o mundo ocidental. No século 2 a.C., o historiador grego Políbio dedicou 40 volumes à questão e chegou à conclusão de que Roma foi movida por uma noção de “destino manifesto”, por uma compulsão para o domínio. Os próprios romanos costumavam sustentar que a formação do império tinha muito de acidental, tendo se delineado no processo de defesa contra invasores. E de fato, o Império Romano, começou de maneira improvisada. Séculos de escaramuças contra Estados rivais ampliaram aos poucos seu território e até o século 3 a.C. a maior parte da península italiana estava sob domínio de Roma. As grandes potencias eram as famosas cidades-Estado – Alexandria, Atenas, Siracusa e Cartago. Ao contrário de Roma elas dispunha de poderosas frotas navais. Mas os romanos tinha seu exército, cuja tenacidade era motivo de orgulho. E depois revelaram-se mais competentes do quie todos os outros para administrar o império.
Impulsionada por pressões políticas e necessidades econômicas – era preciso garantir o abastecimento de cereais, escravos, metais, tecidos, etc. – a expansão romana sofreu brutal aceleração após 260 a.C. um após o outro, os grandes Estados da orla do Mediterrâneo sucumbiram, diante de catapultas, lançadores de bombas incendiárias e de uma infantaria disciplinada, capaz de avançar em centúrias (companhias de 100 homens protegidos por escudos).
Em apenas 200 anos. Roma estendeu sua influencia desde a Síria até a Espanha,e do Sul da França até o deserto do Saara. Muito antes de Augusto atribuir-se o título de primeiro imperador romano, o império já estava em grande parte estabelecido. Algumas poucas províncias distantes ainda seriam acrescentadas mais tarde - Britânia, Dácia ( atual Romênia), Armênia. Mas o grande desafio de Augusto e de seus sucessores não foi a expansão do império,e sim sua administração. E administrar acabou-se revelando o grande talento dos romanos. Embora estes tenham produzido imortais obras literárias, assim como pinturas sublimes e mosaicos tão perfeitos, sempre foi acentuado em Roma um sentimento coletivo de inferioridade em relação à Grécia nos domínios da arte, da literatura e da ciência. Na arte, de governar, porém, a situação era bem outra: ali os romanos conseguiam ser magistrais. No sexto livro da Eneida, de Virgílio, o aspecto é muito bem abordado:
Outros saberão com mais habilidade, abrir e animar o bronze, creio de boa mente, e tirar do mármore figuras vivas, melhor defenderão as causas dos céus e marcarão o curso das constelações: tu, romano, lembra-te de governar os povos sob teu império. Estas serão tuas artes, impor condições de paz, poupar os vencidos e dominar os soberbos.
Aeneis VI, 847-853
“Sob teu império... impor condições de paz”. Virgílio conseguiu sintetizar muito bem em versos este ideal, mas transforma-lo em realidade concreta era uma obra de arte bem mais complexa do que compor uma epopéia. Um fator crucial para a integração do extenso mundo romano foi a adoção de um único código de leis. Mas também o fato de este não ser aplicado de maneira rígida – e este foi um elemento – chave do êxito romano.
Embora pudessem ser extremamente brutais, não pensando duas vezes pregar alguém numa cruz, os romanos preferiram bem mais a cooperação do que a crucificação,pois aquela dava melhores resultados. Quando Roma conquistava nova província, o comandante era derrotado e suas tropas eram levadas embora em grilhões, mas quase todo o resto da população era poupado, e a elite acabava sendo incorporada à hierarquia romana. Os mercadores locais passavam a desfrutar de estradas, aquedutos, leis comerciais e tribunais romanos. e grande parte da população provincial passava a ser cives Romani – cidadãos de Roma, com deveres e privilégios daí decorrentes.
O Estado Romano era um caldeirão de diversidade cultural, qualquer cargo na administração imperial era acessível para um candidato adequado do sexo masculino, não importava seu local de origem. Nascido no norte da África, o general Sétimo Severo tornou-se imperador de Roma - e manteve-se no trono durante 18 anos. Trajano, um dos grandes imperadores, era originário da península Ibérica.
Roma executou Jesus Cristo e perseguiu os cristãos primitivos, atirando muitos deles aos leões mas, essa medidas eram excepcionais. Os romanos tinham seus rituais tradicionais, complementados, após a escensão de Augusto, pelo culto da divindade dos imperadores. Todavia, as crenças romanas eram fortemente influenciadas por uma variada mescla de religiões exóticas.
Quase todo destacamento do exército romano possuía um santuário para Mitra, o deus persa da luz. Quando Pompéia foi redescoberta há dois séculos, um dos primeiros edifícios a ser exumados foi um opulento templo de Ísis, a deusa egípcia da fertilidade. Assim era o diversificado império que Augusto, ao tomar o poder, herdou de seus predecessores republicanos.
O primeiro imperador de Roma mostrou-se também um dos melhores, Roma passara a maior parte dos três séculos anteriores empenhada em conquistas militares. Augusto freou a expansão imperial e concentrou-se na melhoria da infra-estrutura civil – por toda a parte surgiram estradas e pontes, aquedutos, muralhas de proteção e novos templos. A paz de Augusto propiciou o surgimento da época de ouro da literatura latina, durante a qual Horácio, Virgílio, Ovídio e Tito Lívio produziram obras que continuam a ser lidas ainda nos dias de hoje.
( CONTINUA)
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