Cooperifa
Na definição mais fiel da palavra, a poesia é uma das sete artes tradicionais, uma linguagem humana que transcende o emocional das pessoas, por meio do uso das palavras. O caráter emotivo e sensível das poesias traz alguns pré-conceitos errôneos. Quem nunca ouviu a frase “Poesia é coisa de mulherzinha”. Nada disso. A poesia não permite rótulos, ela não é segmentada ou direcionada, ela é de todos.A partir desse conceito, Sérgio Vaz, produtor cultural e poeta, criou a Cooperativa Cultural da Periferia ou simplesmente Cooperifa. O objetivo do movimento é levar cidadania para as pessoas da periferia da capital de São Paulo, através da literatura, e assim incentivar na comunidade a prática da leitura.O espaço escolhido para os encontros? O bar Zé Batidão, localizado no bairro Chácara Santana, periferia do extremo sul da capital. “Escolhemos esse bar porque era o único lugar público do bairro. Muitos aqui queriam mudar do bairro, mas resolvemos mudar o bairro. Então se queremos algo, nós mesmos podemos fazer”, disse Sérgio.Poesia e cinema na lajeFutebol? Música? Que nada. Os moradores comparecem ao bar Zé Batidão para participarem de saraus de poesia. Sérgio Vaz explica o porquê da escolha pela poesia, como fonte de disseminação da cultura no bairro. “Sou poeta e leio desde criança. Inclusive, escrevi meu primeiro livro em 1988. Então eu pensei que meus leitores estão primeiramente no meu bairro. Se eles não lerem o que eu escrevo, quem irá ler?”, indagou.O sucesso foi imediato. Os saraus acontecem sempre às quartas-feiras, das 21h às 23h. Com picos de 400 pessoas, os encontros recebem, em média, 250 apaixonados por esse gênero lírico. O perfil das pessoas presentes é diversificado. Crianças, adolescentes, adultos e idosos prestigiam os encontros poéticos, onde a “ordem” é recitar, com muita alegria e simplicidade. Outro projeto interessante da Cooperifa é o Cinema na Laje, que acontece também no bar do Zé Batidão. A ideia é levar aos moradores documentários e filmes “não hollywoodianos”, com a intenção de aproximar a ficção com a vida real deles. A pipoca é gratuita. Para dar um charme a mais, um lanterninha vestido a caráter participa desse “show” de cidadania e cultura.Mas será que os jovens se interessam, de fato, por poesia? Com a palavra, Sérgio Vaz. “Eles aceitam bem sim. A Cooperifa faz saraus todas as terças em escolas estaduais e municipais. Temos que mostrar a eles que a literatura é uma arte como a música. Eles são bombardeados todos os dias com poesia, através de raps, sambas e outros gêneros musicais, mas acabam nem percebendo. A poesia está no campo de futebol, em todo lugar. “A intenção é mostrar isso a eles e partir disso, usar a palavra para fazer com eles cheguem ao livro”, afirmou.II Mostra Cultural da CooperifaNo ano da comemoração do oitavo aniversário da Cooperifa, quem ganha o presente são os moradores do bairro e demais interessados por literatura, dança, cinema, teatro, música, saraus, feira de livros, exposições e debates. Trata-se da II Mostra Cultural, que acontecerá entre os dias 19 e 25 de outubro. A programação completa das atividades, bem como os locais, pode ser encontrada aqui: VejaA II Mostra Cultural é totalmente gratuita. Quinze escolas já estão agendas para participar. Sérgio Vaz resume a importância de um evento desse porte. “A intenção é levar mais cultura à periferia. Trazer o teatro para cá. Trazer a dança para cá. Enfim, estamos criando as oportunidades. As pessoas aqui da periferia tem que descobrir as coisas, sem sair da quebrada”, sintetizou.
Para conhecer mais o trabalho da Cooperifa e ficar por dentro de todos os eventos, acesse: Cooperifa
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