quinta-feira, 12 de maio de 2011

AGORA A POESIA...LORCA

SONETO


Eu a vi passar por meus jardins


quando minha alma era luz da luz.


Eu a vi mirar o berço


onde a Luxúria morde as crinas.






Eu a vi rezar na penumbra


no altar dos sacros martírios,


azul e pálida como os lírios,


com a luz de meu peito que a ilumina.






Nunca mais a vereis, pois minha alma


já entrou no reino do prazer sombrio,


jardim sem lua, sem paixão, sem flores.






Murchou a flor; e acalmou-se


minha ilusão. Já longínquo o vozerio,


o coração penetrou nas dores.






[10 de janeiro de 1918]














SONETO

O vento explora cautelosamente
qual o velho tronco que derrubará amanhã.
O vento: com a luz em sua alta fronte
escrito pelo pássaro e a rã.


O céu se colore lentamente,
uma estrela morre na janela,
e nas sombras estendidas do Nascente
lutam meu coração e sua maçã.


O vento como arcanjo sem história
terá sobre o grande álamo que espia,
depois de longa espreita, a vitória,


enquanto meu coração, na luz fria,
diante da vaga miragem da Glória,
luta sem decifrar a alma minha.


[agosto, 1923]











SONETO DE HOMENAGEM A


MANUEL DE FALLA OFERECENDO-LHE UMAS FLORES






Lira cordial de prata refulgente


de duro acento e nervo desatado


vozes e frondes de uma Espanha ardente


com tuas mãos de amor desenhaste.






Em nosso próprio sangue está a fonte,


que tua razão e sonhos fez brotar.


Álgebra limpa de serena fronte.


Disciplina e paixão do sonhado.






Oito províncias da Andaluzia,


oliveira ao ar e ao mar os remos,


cantam, Manuel de Falla, tua alegria.






Com o laurel e flores que ofertamos,


amigos de tua casa neste dia,


pura amizade simples te ofertamos.






[Granada, 8 e 9 de fevereiro de 1927]


NA TUMBA SEM NOME DE HERRERA Y REISSIG

NO CEMITÉRIO DE MONTEVIDÉU



Túmulo de esmeraldas e epentismo

como errante pagode submarino,

ramos de morte e aurora de sentina

tornam louco o cipreste de teu lirismo,



anêmonas com fósforo de abismo

cobrem tua caveira amarfilhada,



e o ar tece uma grinalda fina

na calva azul de teu batismo.



Não chega Salambó de mel gelado

nem póstumo carbúnculo de ouro hirto

que salitrou de lis tua voz passada.



Só um rumor de hipnótico concerto,

uma lagoa turva e dissipada,

sopram entre teus lençóis de morto.

A MULHER DISTANTE



SONETO SENSUAL






Todas as mil fragâncias que manam de tua boca


são perfumadas nuvens que matam de doçura.


Meu corpo é como uma ânfora feita de noite escura


que derrama sua essência em ti, divina louca!






Tuas rniradas se perdem nos doces sendeiros,


por ti a noite e o Érebo voltam ao nada,


Febe se apaga lânguida ante ti, humilhada,


e se escarcha de flores a cabeça de Eros.






Em uma noite azul e no jardim silente,


que tu estejas sonhando com regiões brumosas


e o piano murche a "Canção do Olvido",






estrela de meu beijo pousará em tua fronte,


fonte de minha alma te inundará de rosas


e cantará o piano vibrante de som.






[9 de janeiro de 1918]











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