Eu a vi passar por meus jardins
quando minha alma era luz da luz.
Eu a vi mirar o berço
onde a Luxúria morde as crinas.
Eu a vi rezar na penumbra
no altar dos sacros martírios,
azul e pálida como os lírios,
com a luz de meu peito que a ilumina.
Nunca mais a vereis, pois minha alma
já entrou no reino do prazer sombrio,
jardim sem lua, sem paixão, sem flores.
Murchou a flor; e acalmou-se
minha ilusão. Já longínquo o vozerio,
o coração penetrou nas dores.
[10 de janeiro de 1918]
SONETO
O vento explora cautelosamente
qual o velho tronco que derrubará amanhã.
O vento: com a luz em sua alta fronte
escrito pelo pássaro e a rã.
O céu se colore lentamente,
uma estrela morre na janela,
e nas sombras estendidas do Nascente
lutam meu coração e sua maçã.
O vento como arcanjo sem história
terá sobre o grande álamo que espia,
depois de longa espreita, a vitória,
enquanto meu coração, na luz fria,
diante da vaga miragem da Glória,
luta sem decifrar a alma minha.
SONETO DE HOMENAGEM A
MANUEL DE FALLA OFERECENDO-LHE UMAS FLORES
Lira cordial de prata refulgente
de duro acento e nervo desatado
vozes e frondes de uma Espanha ardente
com tuas mãos de amor desenhaste.
Em nosso próprio sangue está a fonte,
que tua razão e sonhos fez brotar.
Álgebra limpa de serena fronte.
Disciplina e paixão do sonhado.
Oito províncias da Andaluzia,
oliveira ao ar e ao mar os remos,
cantam, Manuel de Falla, tua alegria.
Com o laurel e flores que ofertamos,
amigos de tua casa neste dia,
pura amizade simples te ofertamos.
[Granada, 8 e 9 de fevereiro de 1927]
A MULHER DISTANTE
SONETO SENSUAL
Todas as mil fragâncias que manam de tua boca
são perfumadas nuvens que matam de doçura.
Meu corpo é como uma ânfora feita de noite escura
que derrama sua essência em ti, divina louca!
Tuas rniradas se perdem nos doces sendeiros,
por ti a noite e o Érebo voltam ao nada,
Febe se apaga lânguida ante ti, humilhada,
e se escarcha de flores a cabeça de Eros.
Em uma noite azul e no jardim silente,
que tu estejas sonhando com regiões brumosas
e o piano murche a "Canção do Olvido",
estrela de meu beijo pousará em tua fronte,
fonte de minha alma te inundará de rosas
e cantará o piano vibrante de som.
[9 de janeiro de 1918]
[agosto, 1923]
SONETO DE HOMENAGEM A
MANUEL DE FALLA OFERECENDO-LHE UMAS FLORES
Lira cordial de prata refulgente
de duro acento e nervo desatado
vozes e frondes de uma Espanha ardente
com tuas mãos de amor desenhaste.
Em nosso próprio sangue está a fonte,
que tua razão e sonhos fez brotar.
Álgebra limpa de serena fronte.
Disciplina e paixão do sonhado.
Oito províncias da Andaluzia,
oliveira ao ar e ao mar os remos,
cantam, Manuel de Falla, tua alegria.
Com o laurel e flores que ofertamos,
amigos de tua casa neste dia,
pura amizade simples te ofertamos.
[Granada, 8 e 9 de fevereiro de 1927]
NA TUMBA SEM NOME DE HERRERA Y REISSIG
NO CEMITÉRIO DE MONTEVIDÉU
Túmulo de esmeraldas e epentismo
como errante pagode submarino,
ramos de morte e aurora de sentina
tornam louco o cipreste de teu lirismo,
anêmonas com fósforo de abismo
cobrem tua caveira amarfilhada,
e o ar tece uma grinalda fina
na calva azul de teu batismo.
Não chega Salambó de mel gelado
nem póstumo carbúnculo de ouro hirto
que salitrou de lis tua voz passada.
Só um rumor de hipnótico concerto,
uma lagoa turva e dissipada,
sopram entre teus lençóis de morto.
A MULHER DISTANTE
SONETO SENSUAL
Todas as mil fragâncias que manam de tua boca
são perfumadas nuvens que matam de doçura.
Meu corpo é como uma ânfora feita de noite escura
que derrama sua essência em ti, divina louca!
Tuas rniradas se perdem nos doces sendeiros,
por ti a noite e o Érebo voltam ao nada,
Febe se apaga lânguida ante ti, humilhada,
e se escarcha de flores a cabeça de Eros.
Em uma noite azul e no jardim silente,
que tu estejas sonhando com regiões brumosas
e o piano murche a "Canção do Olvido",
estrela de meu beijo pousará em tua fronte,
fonte de minha alma te inundará de rosas
e cantará o piano vibrante de som.
[9 de janeiro de 1918]
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