Ex baixista do Pink Floyd
apresentou primeiro show da incrível turnê 'The Wall'
na cidade neste domingo
Carol Nogueira / Cau
Foram 28 músicas e duas horas e meia de espetáculo, mas que passam bem mais devagar no relógio que na cabeça de Roger Waters, o ex-baixista do Pink Floyd que trouxe a São Paulo neste domingo, no Estádio do Morumbi, o show do álbum clássico da banda, The Wall, com o qual está na estrada desde 2010.
Não é como se ele fosse um músico decadente se aproveitando da história da banda que o catapultou ao sucesso -- afinal, Waters compôs a maior parte do disco e também era o responsável pelos vocais em quase todas as músicas.
O conceitual The Wall é extremamente pessoal para Waters, já que o personagem-título do álbum lançado em 1979, Pink, é baseado nele.
E é revivendo algumas de suas histórias e reinventando sentidos para as músicas do disco, adaptadas para o século XXI, em que não há mais Guerra Fria, que Waters tece o melhor espetáculo em atividade atualmente.
Em um impressionante muro de 137 metros de largura e 11 metros de altura, composto por tijolos brancos que recebem projeções, o músico recria o muro criado para a ópera rock que virou filme no começo dos anos 80.
O começo do show de Waters tem cara de fim.
Logo na introdução instrumental de In the Flesh?, aparecem soldados com suas bandeirolas, que marcham por uma estrutura localizada na parte superior do palco.
Em seguida, fogos de artifício e uma cortina de fogo nocauteiam o espectador e avisam: este não é um show comum.
Nas caixas de som espalhadas estrategicamente pelo estádio (144 no alto das arquibancadas e + 96 içadas na pista voltadas pro fundo), que criam uma sensação de 360º, são reproduzidos os sons do disco, como aviões, helicópteros e tiroteios.
Um avião chega e colide com uma parte do muro, sendo engolido por uma bola de fogo.
No telão circular no meio do palco, começam a aparecer os rostos de civis mortos em guerras, e cada um deles ganha uma projeção nos tijolos do muro, até que ele fica completo no fim de The Thin Ice.
É, então, a vez da primeira parte de Another Brick in the Wall, que prepara os espectadores para um coro emocionante na segunda parte, quando Waters leva ao palco um coral de crianças - em São Paulo, foi o Instituto Bacarelli.
É também nesta hora que aparece a primeira marionete gigante do show, da figura do professor.
Embora o show siga à risca o repertório do disco, nesta hora Waters abre uma exceção para homenagear o brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano pela polícia de Londres em 2005 - algo que ele faz há algum tempo na turnê e, para ficar claro, não tem nada a ver com o fato de o show ter acontecido no Brasil.
Ao final da música, Waters para o show por alguns minutos, agradece o coral e diz: "Compus esta música para o meu pai, mas hoje, percebo que ela não é sobre mim, ou meu pai.
Ela é sobre Jean Charles de Menezes e outros como ele", antes de emendar a música Mother, na qual aparece o segundo fantoche gigante, o da mãe.
Na música seguinte, Goodbye Blue Sky, uma projeção no muro mostra aviões jogando bombas em formatos de logomarcas (entre elas, da Shell e do McDonald's), símbolos religiosos (estrela de Davi, cruz católica e o do islamismo) e cifrões.
Ele continua o show com Empty Spaces, What Shall We Do Now?, Young Lust e One of My Turns, o muro vai sendo construído, tijolo por tijolo, até ficar praticamente completo em Another Brick in the Wall Part 3 e The Last Few Bricks, que não consta no repertório original do álbum, mas serve para ganhar um tempo extra na construção do muro.
Na sequência, vem a emocionante Goodbye Cruel World e Waters deixa o palco para um breve intervalo.
É o fim do primeiro ato.
No começo do segundo ato, Waters fica escondido atrás do muro, de onde canta canta Hey You e pergunta: Is There Anybody Out There? ("Tem Alguém Aí?").
Depois, surge sentado em uma cadeira em uma sala de estar montada dentro de um compartimento do muro, para tocar Nobody Home.
O show segue com Vera, Bring the Boys Back Home, até que chega a Comfortably Numb. Nesta, Waters vai à frente do muro e faz uma interpretação comovente, que culmina com uma explosão projetada no muro.
O show continua com The Show Must Go On.
Então, é a vez de In the Flesh?, na qual o famoso porco gigante de Waters flutua sobre a plateia.
Em São Paulo, no entanto, a artimanha não deu muito certo.
Talvez pelo peso do balão, feito de uma espécie de lona, ou pela falta de vento, o porco não flutuou, tendo de ser carregado pela plateia, como um roqueiro sendo levado pelos fãs.
É nesta hora que começa a parte mais impressionante do show.
Enquanto Waters canta Run Like Hell, Waiting for the Worms, Stop e The Trial, são exibidos trechos do filme original de 1982 e as elogiadas animações de Gerald Scalfe, em um espetáculo visual catártico que deixa o espectador boquiaberto e só poderia terminar de uma maneira: com a destruição completa dos tijolos.
Waters e os músicos de sua banda aparecem na frente do muro destruído e se despedem cantando Outside the Wall com uma grande variedade de instrumentos acústicos, deixando uma plateia encantada.
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