Um experiente repórter esportivo cobria o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 no rio de Janeiro, em 1979. Na área conhecida como paddock, durante os treinos livres, ele percebeu um cidadão estranho, de olhar indiferente, próximo ao local onde estavam convidados da equipe Copersucar e do piloto Emerson Fittipaldi, titular da escuderia.
O repórter observou que aquele cidadão de cabelos levemente compridos não lhe era estranho. Devagar, chegou mais perto do cidadão e o reconheceu. George Harrison, amante do esporte, estava sozinho, observando os treinos, encostado na mureta do camarote. “Com licença, você é você mesmo?”, perguntou o embasbacado repórter.
Harrison foi o primeiro beatle a vir ao Brasil. Amigo de Fittipaldi, gostava de acompanhar as corridas nos boxes em várias partes do mundo. Ao contrário de Paul McCartney, fazia de tudo para passar despercebido. Quase conseguiu no Rio em 1979, mas não foi importunado por fãs.
O beatle quieto faria 70 anos nesta semana se estivesse vivo. Morto em 2001, aos 58 anos, em decorrência de um câncer, Harrison se transformou em um músico intocável e com respeitabilidade crescente. Conseguiu ultrapassar a fronteira dos ícones e celebridades com vidas expostas e ganhou certa blindagem: é raríssimo alguém falar alguma de mal do músico.
Um pouco dessa trajetória diferenciada em relação ao resto do show business poderá ser acompanhada em português, finalmente. A editora Sankirtana Books lança em 2013 o livro “Here Comes the Sun – A jornada espiritual e musical de George Harrison”, do historiador Joshua M. Greene. O lançamento está previsto para 29 de novembro, dia da morte do artista.
A obra é considerada a melhor biografia de Harrison. O período dos Beatles é analisado de forma levemente crítica, exaltando a importância do guitarrista na carreira do quarteto, ainda que subestimado por quase todo o tempo em que o grupo existiu.
Um pouco maçante talvez seja o espaço grande dedicado ao envolvimento de Harrison com o hinduísmo e sua veneração pela Índia em todos os aspectos. Entretanto, é parte fundamental da obra, necessária para entender a formação da personalidade e do caráter do músico.
Com dezenas de fotografias, algumas raras, o livro traz histórias nunca antes publicadas de George com ícones da música, como Bob Dylan e Elvis Presley, além de descrições detalhadas de seus encontros com emblemáticos líderes espirituais. “Um elemento fundamental do legado dos Beatles nunca foi explorado antes, que é a busca espiritual de George Harrison. Até agora, ninguém havia explicado essa questão e o que ela significava pra ele”, comenta Greene no material de divulgação distribuído pela editora.
“Ele se tornou rico e famoso além da conta aos 23 anos e teve muitas experiências profundas nesse curto período. Sua vida foi compactada. Ele tinha tudo que valia a pena ter, já havia encontrado com todos que queria, mas teve uma inteligência inata para saber que ‘há algo mais na vida do que apenas curtir’”,diz o autor.
fonte: http://blogs.estadao.com.br/combate_rock/biografia-de-george-harrison-deve-ser-lancada-no-brasil/