O que há sete anos parecia improvável (para não dizer impossível) está prestes a se concretizar: o retorno do Ira!, durante a Virada Cultural, que acontecerá nos dias 17 e 18 de maio, em São Paulo. “Faz parte de ter um retorno digno de respeito com nosso público”, comemora o guitarrista Edgard Scandurra. “Ninguém havia entendido muito bem o final cheio de denúncias e blá-blá-blá na imprensa. Sempre pensei que poderíamos voltar pelo menos para ter uma despedida decente.”
A banda interrompeu a carreira abruptamente, após brigas entre os integrantes, em 2007, pouco tempo depois de lançar o disco Invisível DJ. A reaproximação de Scandurra e de Nasi aconteceu em abril de 2013, quando o vocalista telefonou para o guitarrista se oferecendo para participar de um evento beneficente. Os ingressos para o show, ocorrido em outubro, esgotaram-se rapidamente. “A partir dali, pela emoção que foi subir no palco novamente com aquelas canções e juntos, veio a possibilidade de estendermos para uma turnê”, conta Nasi. Agora, a expectativa é repetir a maratona de shows que seguiu o disco Acústico MTV (2004), que durou um ano e meio e teve mais de 200 apresentações.
Além de Scandurra e Nasi, a banda contará com nova formação – Daniel Scandurra (filho do guitarrista, no baixo) e Evaristo Pádua (parte da banda solo de Nasi, na bateria), além de Johnny Boy (como músico de apoio, no violão e teclados, instrumento que tocou em quase todos os álbuns do Ira! nos anos 1990). Eles serão empresariados por Airton Valadão Rodolfo Júnior, irmão de Nasi, que havia sido um dos pivôs da separação e agora foi responsável pela reaproximação da dupla. O baixista Ricardo Gaspa e o baterista André Jung, que fizeram parte do Ira! entre 1985 e 2007, ficaram de fora da reunião. “Infelizmente, em função de toda a animosidade criada no momento da nossa separação, para alguns integrantes parece que não existe muito retorno”, conta Scandurra, que afirma ter o “grande sonho” de que, mesmo que não voltem a tocar juntos, os músicos façam as pazes fora dos palcos.
No repertório, estarão sucessos como “Envelheço na Cidade” e “Flores em Você”, e lados B, entre eles “O Bom e Velho Rock ‘n’ Roll”. Há ainda a possibilidade de três canções inéditas entrarem no setlist. O clima dos ensaios tem sido tão bom, afirma a dupla, que tanto Scandurra quanto Nasi não descartam a possibilidade de em breve gravar um novo álbum. “A intenção inicial era fazer uma turnê para visitar de novo o Brasil e reaprender a tocar com outros músicos. Mas está começando a se criar novas músicas. Então, não está descartada a ideia de um novo disco. É bem capaz de acontecer”, avalia Nasi.
“É a volta da parceria que, apesar de toda a hecatombe que caiu sobre nós, não morreu”, continua o vocalista. “Eu e Edgard começamos praticamente juntos, no final da nossa adolescência, com o sonho de ter uma banda de rock, quando isso era algo praticamente sem perspectiva no Brasil.” Scandurra garante que, apesar de serem frequentemente ligados à década de 1980, eles criaram canções atemporais. “Mesmo que tenhamos aparecido como membros de uma cena forte daquela época, nossa música atravessou os anos 1990, entrou nos anos 2000 e ainda mantém um espírito jovem e desafiador, que retira a característica de uma banda de veteranos tocando músicas nostálgicas”, afirma. “Temos muito ainda para mostrar a uma nova geração, inclusive de artistas.”