Produzida por Nigel Godrich (Radiohead), a trilha sonora de "Scott Pilgrim contra o Mun- do" promete sobrevi- ver ao filme, com uma excelente coleção de rocks e obscuridades
Vai longe o tempo das trilhas sonoras memoráveis.
Quando bem compiladas, elas sobrevivem aos produtos originais (filmes, novelas e, mais raramente, games).
Em geral, reuniam boas músicas que fogem a obviedade; e uns pops descarados, no limite da mediocridade, mas que retratam bem uma época.
Os discos feitos para os filmes de Quentin Tarantino costumam ser uma aula neste sentido.
Pender para um dos lados da balança é arriscado, como comprovam as chatas e instantaneamente datadas trilhas de novelas da última década.
"Scott Pilgrim vs. The World", trilha sonora de "Scott Pilgrim contra o Mundo" (em cartaz no Brasil, mas, infelizmente, ainda ausente das salas cearenses) mostra que compor um disco desta natureza é uma arte delicada e para poucos. O autor da façanha é Nigel Godrich, produtor inglês que se notabilizou a partir de "Ok Computer" (1997), sua terceira colaboração com a banda cult Radiohead.
Godrich é chamado de "sexto membro" do grupo e, de lá para cá, produziu todos seus álbuns.
Após o sucesso do melhor álbum do quinteto inglês, o produtor foi convidado a colaborar com o Olimpo do indie rock (Beck, Pavement. R.E.M. Air, Charlotte Gainsbourg) e do mainstream (Paul McCartney e U2). Godrich tornou-se uma grife, um selo de qualidade felizmente confiável.
A trilha de "Scott Pilgrim" consegue ser boa do início ao fim.
A toque de mestre foi evitar que ela soasse demasiado juvenil, como a HQ que originou o filme sugere.
Ao invés de enfadonhas bandas teen, gente que boa parte do público adolescente sequer sonha existir.
Dinossauros e indies
O único medalhão do CD são os Rolling Stones, que comparecem com a antiquíssima "Under my thumb", de 1966, hoje pouco lembrada.
A canção é uma das melhores do repertório da banda, mas soa deslocada em meio a timidez barulhenta dos mais jovens.
Melhor se sai a ressurreição de "Teenage Dream", da banda glam T. Rex (usada à exaustão em outra trilha célebre, do filme "Billy Elliot").
Quem se sobressai, entre todos os demais, é o norte-americano Beck.
Autor do hino dos fracassados da década passada, "Looser", ele tem autoridade para cantar as dores de amor de um nerd.
Beck colabora com duas canções solo, a balada "Ramona" e uma versão acústica desta. Trata-se de uma canção bonita, enfeitada com um discreto arranjo de cordas e um clima anos 70, na linha de seu último álbum, "Modern Guilty".
Concorre ao melhor momento do disco com outra balada melancólica, "By your side", da obscura Beachwood Sparks.
Beck ainda compõe e toca nos rocks de garagem da fictícia banda Sex Bob-Omb (comandada por Pilgrim/Cera no filme). Destaca-se, ainda, as participações da Broken Social Scene (travestida da também ficcional Crash and The Boys) e o ex-Pixies Frank Black.
Rock - Scott Pilgrim vs. The World Vários - Universal Music - 2010
19 faixas - R$ 24,90
Fique por dentro
Sete inimigos
Scott Pilgrim tem 22 anos, é roqueiro e geek.
Um dia ele conhece Ramona Flowers, uma jovem de cabelos coloridos, pela qual se apaixona.
Eles se tornam namorados e vai tudo muito bem até que entram em cena os ex-namorados da moça: sete no total.
Como um herói das histórias em quadrinhos, Scott precisa derrotá-los para conquistar de vez o coração de Ramona.
Dirigido por Edgar Wright, o longa traz no elenco Chris Evans, Brandon Routh e Kieran Culkin (irmão do Macaulay), além de Michael Cera (de "Juno") no papel-título.
DELLANO RIOS
EDITOR