PÃO E CIRCO OU PANIS ET CIRCENSES
Caetano Veloso e Gilberto Gil, fizeram uma das canções mais enigmáticas de suas carreiras.
Panis Et Circenses oriundo do latim, vem a ser Pão e Circo, expressão cunhada de uma pratica desenvolvida pelo Império Romano.
Para afastar o povo de ter preocupações com as questões politicas, econômicas e sociais, os imperadores distribuíam regularmente pães á população pobre e durante 180 dias do ano, realizavam espetáculos, o circo, com combates entre animais e escravos, desafetos de Roma.
Esta dicotomia, afastava os Romanos da realidade do império. Maquiavel em sua obra o Príncipe, vai retomar a teoria Romana, ao orientar os Reis de Florença, á acalmar e dominar á população ofertando Pão e Circo.
Aqui na terrinha vira e mexe a teoria se repete.
A canção de Caetano e Gil, nunca gravada por eles, foi composta no contexto da Ditadura Militar, repressora e assassina, bem como nas transformações estéticas e comportamentais da Juventude, não só no Brasil, como no mundo.
È a contra cultura, o Flower Power, Paz e Amor, o Movimento Hippie. Estes movimentos vão questionar o Estado de Direito, e principalmente a concepção tradicional de Família.
Com o lema polêmico na época, sexo, drogas e Rock In Rool, esta juventude, propõe a plena liberdade para amar, sem preconceito, sem distinção e aponta para um mundo novo, a Era de Aquarius.
È neste quadro de Revoluções, que os poetas baianos, construíram Panis Et Circenses e o movimento do qual eles criaram e foram seus lideres: A TROPICÁLIA.
O arranjo musical, mistura o erudito muito clássico da idade média, com flauta e até uns acordes de citara, com as guitarras elétricas dos Mutantes, grupo de Rock, formado por Rita Lee, Arnaldo e Sergio Baptista.
È uma das primeiras canções que introduz a sonoplastia, pratos se quebrando no arranjo e olha a edição era feita com tesoura e cola, nas fitas de rolo para gravação.
A letra é uma verdadeira viagem, típica daqueles que defendiam o uso de ácido, como fonte para abrir a percepção e melhorar o intelecto, muito comum á época.
Com o uso de metáforas, conta a História na primeira pessoa de alguém á procura do Sol, elemento que figura para a Contra Cultura, como sinônimo de Liberdade ou em uma segunda interpretação a procura do Ácido Rei.
E esta procura questiona á família que estática, apenas se preocupa com o que esta na sala de jantar, enquanto o Jovem da letra, busca o infinito, o diferente, o revolucionário.
Em outra leitura a Família representa os militares no poder e o sol a Democracia.
Panis Et Circenses é uma canção libertária, e que tem nos Mutantes uma de suas principais interpretações, e foi gravada pela primeira vez em maio de 1968 no LP Manifesto Tropicália ou Panis Et Circenses.
A alusão ao Pão e ao Circo, é a critica a hipocrisia de família feliz, que passa imune as mudanças de comportamento no mundo.
A Música teve duas regravações que considero importante:
O Conjunto vocal Boca Livre a gravou nos 80 do século passado e Marisa Monte nos anos 90.
Abaixo a letra da canção.
Panis Et Circenses
Os Mutantes
Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei fazer
De puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer