terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Quinto dos Infernos

O Quinto dos Infernos

28/10/2009 - 00:00 - Autor: Redação JL

Lá pelo século 18, por volta de 1720, o rei de Portugal baixou decreto estabelecendo que de tudo quanto se produzisse no Brasil, então colônia, um quinto, ou seja, 20%, deveria ser entregue para a Coroa Portuguesa como tributo. Tal medida, que visava principalmente à produção mineral, ouro e pedras preciosas, foi considerada extremamente impopular, mesmo pelos portugueses que moravam no Brasil, e daí a expressão "quinto dos infernos", pois o imposto, para os donos de minas, era algo tão infernal que alguns militares do exército colonial, profissionais liberais e até mesmo donos de minas, começaram a pensar em uma forma de se livrar de um governo tão oneroso e tais pensamentos acabaram estimulando o surgimento da Inconfidência Mineira.
O Produto Interno Bruto Brasileiro atualmente se situa entre os dez maiores do mundo, geramos muito mais riqueza aqui do que diversos outros países cuja qualidade de vida é bastante superior e cujos índices de desenvolvimento humano são bem melhores do que o nosso. Por que, tendo uma economia tão rica, ainda vemos tanta miséria no País? Bem, uma das razões está exatamente nos dois quintos dos infernos que agora pagamos aos nossos governantes. A carga tributária brasileira se aproxima de 40%, ou seja, de tudo o que é produzido no Brasil, praticamente dois quintos vão para os governos federal, estadual e municipal. Além disso, o déficit público é gigantesco, pois os gastos do governo não param de crescer. O custo das obras públicas é astronômico e quem deveria fiscalizar, não o faz. O cidadão paga altos impostos sem perceber, não nota que em um pacote de biscoitos ou em um litro de refrigerante ou de combustível estão embutidos impostos acima de um quinto do preço do produto, e não percebe que tem que pagar por educação, saúde e segurança privadas, pois o serviço público é de péssima qualidade, a corrupção campeia e a criminalidade explode.
Na minha primeira viagem aos EUA, na década de 70, morei perto de Chicago e acabei conhecendo um cidadão cujo tio-avô havia sido um mafioso nos anos 40. O ex-mafioso, pelo menos assim se declarava, relatou que lá existe corrupção, contou que a Máfia pagava um determinado prefeito para que a polícia local não incomodasse os negócios de prostituição e bebidas. Porém, certo dia descobriram que o tal prefeito estava superfaturando uma obra, pegando comissão de uma empreiteira que fazia uma estrada com má qualidade, daquelas que desmancham na primeira chuva. Aí, a Máfia "sumiu" com o prefeito, nunca mais ninguém teve notícias dele. Antes, porém, o prefeito e os vereadores receberam a advertência: "Nós já pagamos vocês para que nos deixem em paz, não há razão para vocês roubarem o povo. Tratem de fazer as obras corretamente". Como se pode ver, lá a população arca com um quinto de um inferno que, embora corrupto e criminoso, não rouba tanto do povo. Já por aqui, arcamos com dois quintos de um inferno onde traficantes não estão dispostos a disciplinarem os políticos e políticos não estão dispostos a acabar com a criminalidade.

Celso Leite
ADMINISTRADOR, CONSULTOR DE EMPRESAS, PROFESSOR E TRADUTOR JURAMENTADO

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